As dinâmicas de espectatorialidade cinematográfica no cinema indígena Mebêngôkre-Kayapó
DOI:
https://doi.org/10.22475/rebeca.v14n1.1233Palavras-chave:
Cinema indígena, Cinema Kayapó, Filme-ritual, EspectatorialidadeResumo
O povo indígena Mebêngôkre-Kayapó, do Pará, começou a ter suas primeiras experiências com a câmera em meados da década de 1980, quando se apropriaram dela para registros imagéticos e sonoros da própria cultura, modificando algumas percepções de si. Desde então, passaram a registrar cotidianos, práticas tradicionais, rituais e mobilizações a partir de suas próprias perspectivas. Além disso, sempre que possível, passaram a exibir coletivamente suas filmagens nas comunidades, permitindo que os espectadores expressem julgamentos estéticos sobre as imagens que assistem. Neste estudo, pretende-se abordar o fazer cinematográfico Mebêngôkre a partir de uma investigação das dinâmicas de espectatorialidade cinematográfica e representação de si nas imagens, enfatizando como essas características têm papel construtivo no resultado final de seus filmes. Discute-se a prática espectatorial a partir das cosmologias desse povo indígena brasileiro, destacando as potencialidades dessas relações por meio de reflexões e entrevistas com cineastas Mebêngôkre. Por meio dessas investigações, identifica-se que a recepção de filmagens parece contribuir com a construção de uma autoimagem que é operada a partir de modos de endereçamento e de leitura espectatorial. O artigo pretende contribuir para dar visibilidade à emergência das discussões sobre espectatorialidade e recepção no cinema indígena brasileiro.
Downloads
Referências
ARAÚJO, Juliano José de. Cineastas indígenas, documentário e autoetnografia: um estudo do projeto Vídeo nas Aldeias. Bragança Paulista: Margem da Palavra, 2019.
BANIWA, Gersem Luciano. Movimentos e políticas indígenas no Brasil contemporâneo. Revista Tellus, n. 12, p. 127-146, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.20435/tellus.v0i12.136. Acesso em: 6 set. 2024.
CAIXETA, Ruben. Cineastas indígenas e pensamento selvagem. Revista Devires, v. 5, n. 2, p. 98-125, 2008. Disponível em: https://bib44.fafich.ufmg.br/devires/index.php/Devires/article/view/308. Acesso em: 8 set. 2024.
COMANDUCCI, Carlo. The wayward spectator. 2015. Tese (Doutorado). University of Birmingham, Birmingham, 2015.
DEMARCHI, André; MADI DIAS, Diego. Vídeo-ritual: circuitos imagéticos e filmagens rituais entre os Mebêngôkre (Kayapó). Gesto, Imagem e Som – Revista de Antropologia, v. 3, n. 1, p. 38-62, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2525-3123.gis.2018.142190. Acesso em: 28 ago. 2024.
DEMARCHI, André. Kukràdjà Nhipêjx: fazendo cultura: beleza, ritual e políticas da visualidade entre os Mebêngôkre-Kayapó. 2014. Tese (Doutorado), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014.
ELLSWORTH, Elizabeth. Modo de endereçamento: uma coisa de cinema; uma coisa de educação também. In: SILVA, Tomaz Tadeu (org.). Nunca fomos humanos: nos rastros do sujeito. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. pp. 8-76.
GIOVINE, Simone. [Entrevista concedida ao pesquisador Brener Neves]. WhatsApp: [Conversa com Simone Givone], junho de 2023. Arquivo pessoal.
GORDON, César. O valor da beleza: reflexões sobre uma economia estética entre os Xikrin (Mebêngôkre-Kayapó). Série Antropologia, v. 494, 2009.
JECUPÉ, Kaká Werá. A terra dos mil povos – História indígena do Brasil contada por um índio. 2ª ed. São Paulo: Peirópolis, 2020.
MADI DIAS, Diego. Filmar e guardar: reflexões sobre a “cultura” e imagem a partir do caso Mebêngokrê-Kayapó (PA). Revista Museologia e Patrimônio, v. 4, n. 1, p. 149-169, 2011. Disponível em:
MADI DIAS, Diego; DEMARCHI, André. A imagem cronicamente imperfeita: o corpo e a câmera entre os Mebêngôkre-Kayapó. Espaço Ameríndio, v. 7, n. 2, p. 147-171, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.22456/1982-6524.37505. Acesso em: 20 set. 2024.
MEBÊNGÔKRE, Bepkadjoiti. [Entrevista concedida ao pesquisador Brener Neves]. WhatsApp: [Conversa com Bepkadjoiti Mebêngôkre], fevereiro de 2024. Arquivo pessoal.
MEBÊNGÔKRE, Bepunu. [Entrevista concedida ao pesquisador Brener Neves]. WhatsApp: [Conversa com Bepunu Mebêngôkre], entre janeiro de 2024 e março de 2025. Arquivo pessoal.
MEBÊNGÔKRE, Beptemexti. [Entrevista concedida ao pesquisador Brener Neves]. WhatsApp: [Conversa com Beptemexti Mebêngôkre], abril de 2024. Arquivo pessoal.
MEMYBIJOK – a festa dos homens. Direção: Bepkadjoiti Mebêngôkre-Kayapó. Produção: Coletivo Beture Cineastas Mebêngôkre. Brasil, 2018. 19min., sonoro, colorido.
NEVES, Brener. O cinema indígena Kayapó e a relação corpo-câmera. 2022. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2022.
ODIN, Roger. Semio-pragmática e história: sobre o interesse do diálogo. Estudos de Cinema, v. 1, n. 1, 131-145, 1998.
ODIN, Roger. La question du public. Approche sémio-pragmatique. Réseaux – Communication – Technologie – Société, v. 18, n. 99, p. 49–72, 2000. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/reso_0751-7971_2000_num_18_99_2195. Acesso em: 18 dez. 2024.
ODIN, Roger. Filme documentário, leitura documentarizante. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, v. 39, n. 37, p. 10-30, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2316-7114.sig.2012.71238. Acesso em: 10 dez. 2024.
RIOS, Luis Henrique; PEREIRA, Renato; FROTA, Mônica. Mekáron Opoijoie. In: Caderno de Textos Antropologia Visual. Rio de Janeiro: Museu do Índio, 1987.
STAM, Robert. Introdução à teoria do cinema. Campinas: Papirus, 2000.
TURNER, Terence. Imagens desafiantes: a apropriação Kaiapó do vídeo. Revista de Antropologia, v. 36, p. 81-121, 1993. Disponível em: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1993.111390. Acesso em: 28 ago. 2024.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Revista Mana, v. 2, n. 2, p. 115-144, 1996. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/1421. Acesso em: 22 set. 2024.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Brener Neves Silva, Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.