Figuração e potências da trabalhadora doméstica no cinema brasileiro recente
DOI:
https://doi.org/10.22475/rebeca.v13n1.1110Palavras-chave:
Cinema brasileiro, Empregada Doméstica, Colonialidade, Cinema políticoResumo
Neste artigo, propomos analisar a figuração da trabalhadora doméstica em três filmes recentes: Trabalhar cansa (2011), realizado pela dupla Juliana Rojas e Marco Dutra, O som ao redor (2012) e Aquarius (2016), ambos realizados por Kleber Mendonça Filho. Esses filmes valem-se de elementos de suspense e/ou sobrenaturais, o que traz consequências na figuração da trabalhadora doméstica. Trazemos a hipótese de que as modalidades utilizadas pelos filmes para representar a trabalhadora doméstica questionam, sob uma nova luz, as dominações e desigualdades sofridas por essa categoria profissional. Assumimos que esses filmes desfazem a representação convencional da trabalhadora doméstica no cinema, porque ela aparece como uma figura fundamentalmente outra, uma alteridade absoluta que vai escapar ao entendimento tanto dos empregadores, quanto do espectador. Consideramos que o trabalho de historicização efetuado pelos filmes nos convida a pensar a herança do passado colonial e escravista do Brasil que se manifesta no trabalho doméstico, ainda marcado por formas de “colonialidade” (Quijano, 2005). Ao longo deste ensaio, estudaremos o papel subversivo e político da personagem da trabalhadora doméstica que perturba a narrativa dos filmes, desestabiliza as relações com os empregadores, desnaturaliza o trabalho doméstico e nos convida a encarar alguns impensados do trabalho doméstico. Mediante análises fílmicas, mostraremos que essas profissionais se valem de três estratégias para aparecer e ficar na imagem nos filmes: manter distância, ocupar o plano e tornar-se fantasma.
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