Do canibalismo cósmico às (re)figurações coloniais da máquina-boca no filme O clube dos canibais
DOI:
https://doi.org/10.22475/rebeca.v13n1.1058Palavras-chave:
Cinema de terror, Colonialidade, Canibalismo, RepresentaçãoResumo
A partir da representação de pessoas pretas nos filmes de terror contemporâneos, o artigo reflete sobre a construção simbólica de artifícios narrativos sobre o mecanismo alegórico biológico da fome colonial, através da ótica da racialidade. O conceito de canibalismo cósmico e máquina-boca possibilitam compreender o ato violento e figurativo de comer a partir da análise do filme O clube dos canibais (2019). A decomposição da articulação narrativa de terror da obra possibilita a exploração das estruturas simbólicas associadas à violência colonial extrativista representada pela parábola do ato de devorar, canibalizar e despedaçar corpos pretos “submissos” em uma conjuração arquetípica da geologia colonial da fome. A aplicação da análise fílmica se valida a partir da reflexão crítica que Denise Ferreira da Silva e bell hooks propõem sobre as questões da racialidade e do capitalismo e de sua relação com o imaginário, estabelecendo compreensões sobre quais corpos são comestíveis em uma sociedade com transtorno alimentar estrutural. O canibalismo surge como uma chave relacional com o espectador ao tensionar o ato de comer ao sentido de explorar e devorar, a partir das hierarquias de raça e de classe que demarcam as relações de poder em uma cadeia alimentar colonial-global. O vulnerável alimento como parte de um jogo da supremacia extrativista.
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